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5 de abr. de 2010

ESPIRITUALIDADE MISSIONÁRIA

ESPIRITUALIDADE MISSIONÁRIA


“Não estava ardendo nosso coração quando Ele nos falava pelo caminho, e nos explicava as Escrituras?” (Lc 24, 32)


Segundo Lucas, através da experiência dos Discípulos de Emaús, Jesus se coloca como aquele que sempre caminha no meio dos homens a fim de solidarizar-se com as dificuldades de todos os homens e mulheres. Essa, verdadeiramente é uma ação missionária, pois não basta anunciar é preciso também sempre caminhar junto.
Ao refletir a caminhada dos discípulos de Emaús podemos identificar três características de grande importância:
1. a presença de Jesus ressuscitado que continua caminhando entre os homens;
2. a presença de Jesus através do anuncio das Sagradas Escrituras;
3. sua presença na celebração Eucarística, relembrando o dom da sua vida e, ao mesmo tempo, enfatizando a importância da partilha e da fraternidade.
“[...] ao evangelizar a Igreja não se anuncia a si mesma: ao celebrar na história a memória da nova Páscoa, ela indica em meta futura, julga o presente e comunica aos homens a força da esperança.” [1]
Teologia da missão
Fundamentalmente do cristianismo é a Teologia da Missão porque fala sobre a caminhada e o crescimento do Reino de Deus entre os povos, igrejas e religiões. Todavia, tem o objetivo de fazer com que todas as pessoas participem do “Banquete da vida” do Reino de Deus na história e na eternidade. Assim sendo, cada grupo ou nação é convidada a participar num agir pessoal e coletivo do crescimento do Reino de Deus com atitudes de fé, esperança e caridade.
Segundo Comblin, o objetivo da missão é a participação de cada pessoa e da humanidade tomada como corpo na caminhada do reino de Deus. Atendendo ao supremo mandato missionário de Jesus, a Igreja nascente partiu para a missão e este mandamento atravessa os tempos e chega até nós e, como ardorosos portadores, é nossa tarefa e desafio ser missionário no mundo atual.
Frente à necessidade de responder tal desafio missionário, é a partir do Vaticano II que vamos obter uma melhor visão da importância da vida como missão. A missão da Igreja é anunciar, proclamar o evangelho, mas também trabalhar para esse advento, pois Jesus não veio anunciar um milagre e sim a chegada de uma era nova em que os próprios pobres, animados pelo Espírito de Deus, poderiam recuperar a vida, a liberdade e a dignidade humana. Por essas razões é que a missão se dirige ao pobre.
Em vista do conceito de Igreja como povo de Deus, o Vaticano II iniciou processos eclesiológicos e pastorais para não se fixar a territórios geográficos. Prova dessa realidade é a missão inter ad gentes, que deixara de ser ad gentes, devido o contexto do pluralismo religioso da Ásia, por ser um contexto de diálogo com as religiões, as culturas e os pobres. Mas, para a América Latina e o Caribe, que passou por um aprofundamento na leitura bíblica e pela renovação de Medellín, Puebla e santo Domingo, missão ad gentes significa seguir Jesus, convocar seus destinatários preferenciais, os pobres, e enviá-los como protagonistas de seu Reino.


Eclesiam Suan
Os caminhos da Igreja
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Nesta primeira encíclica, Paulo VI mostra um pouco de perfil de como será o seu pontificado, coloca parâmetros para toda Igreja universal. Com as palavras de irmão e pai, o papa manifesta alguns pensamentos de ordem prática ao iniciar seu ministério petrino.
Nos diz o Santo padre, que não se pode ignorar o estado em que se encontra hoje a humanidade. Lembremos, portanto, que Paulo VI foi eleito em pleno Concilio Ecumênico Vaticano II. O papa então se importa com a salvação da sociedade humana e, ao mesmo tempo, quanto a Igreja tem feito para que ambas se encontrem, conheçam e amem.
Paulo VI não tem nessa encíclica dizer coisas novas, nem completas, pois para isso está o Concilio Ecumênico. O objetivo desta encíclica está no desejo do papa de cumprir de abrir nossa alma, com a intenção de dar maior coisas e maior alegria à comunhão de fé e de caridade, que reina felizmente entre nós. O papa ainda pretende imprimir um vigor renovado em seu ministério, contribuir para o bom êxito da doutrina.

Tríplice empenho da Igreja
O primeiro pensamento salienta o papa, é que vivamos a hora de a Igreja aprofundar a consciência de si mesma, meditar sobre seu mistério, investigar para a instrução e edificação da doutrina, que já lhe é conhecida e foi elaborada e difundida de modo especial neste último século, sobre sua origem, natureza, missão e destino.
Segundo ponto é o da consciência esclarecidas e ativas, que nasce o desejo espontâneo de comparar a imagem ideal da Igreja, qual Cristo a viu, quis e amou como sua esposa santa e Imaculada (Ef 5, 27), de a comparar, dizemos, com rosto que ela apresenta hoje. Seu fundador imprimiu traços nela e o Espírito Santo vivificou, ampliou e aperfeiçoou no decorrer dos séculos, tornado a Igreja mais fiel ao conceito inicial e, por outro lado, mais ajustada à índole da humanidade que ela ia evangelizando e incorporando a si.
O terceiro pensamento se dá no diálogo entre Igreja e o mundo moderno, problema cuja apresentação, na sua amplitude e complexidade, cabe ao Concilio, como também o esforço para resolver da melhor maneira possível.

Zelo assíduo e ilimitado pela paz
É necessário, hoje, ter maior consciência de nossa missão cristã no mundo, onde o objetivo inclui tornar os homens irmãos, porque o Reino é de justiça e paz. Esta reflexão, seguida do papa, abrange o modo escolhido por Deus, para revelar aos homens e para estabelecer com eles aquelas relações religiosas de que a Igreja é instrumento e expressão.
O papa nos convida a um ato de fé viva, profunda e consciente em Jesus Cristo, nosso Senhor. Esse momento em nossa vida deveria caracterizar-se por esta profissão de fé convicta, ainda que sempre humilde e ansiosa semelhante a que nos transmite o evangelho.
Portanto, o papa Paulo VI, diz que a Igreja precisa viver sua própria vocação, ou seja, ela precisa refletir sobre si mesma, deve aprender a conhecer-se melhor se quiser realizar a própria vocação e oferecer ao mundo sua mensagem de fraternidade e salvação.

Igreja e modernidade
Para poder conhecer-se melhor ela precisa experimentar Cristo em si mesma, pois a Igreja está mergulhada na humanidade. Ora, é sabido que a humanidade no tempo atual está em vias de grandes transformações.
O pensamento, a cultura e o espírito sofrem modificações profundas e tudo isso envolve e sacode a Igreja. Para nos imunizarmos desse perigo ameaçador e múltiplo, parece-nos que é obvio aprofundarmos o conhecimento que temos da Igreja, pois esta é iluminada e guiada pelo espírito Santo.
A necessidade de refletir sobre coisas já conhecidas é característica do homem moderno. Não que dizer que este hábito se encontre imune de Perigos Graves, mas habituar-se a buscar a verdade, que se reflete na própria consciência não deixa de ser muito apreciável e hoje praticado como expressão requintada da cultura moderna.
É sabido que a Igreja se lançou nestes últimos tempos a estudar-se melhor a si mesma. A partir do Concilio de Trento, que fez o possível por reparar as conseqüências da crise que afastou tanto os cristãos no século XVI, a doutrina sobre a Igreja contou notáveis progressos. No Concilio Ecumênico Vaticano I compreendemos como o estudo sobre a Igreja é importante. Esse tema é fase obrigatória no caminho do conhecimento de Cristo e de toda sua obra. Tanto que o Concilio Ecumênico Vaticano II não passa de uma continuação e complemento do I. também não podemos deixar de nomear com honra dois documentos, a encíclica “Satis Cognitum” do Papa Leão XIII (1896) e o “Mistici Corporis” do papa Pio XII (1943). Ambos nos oferecem doutrina abundante e luminosa sobre a instituição divina pela qual, Cristo prolonga no mundo sua obra de Salvação.
Cada vez mais instruídos na ciência do corpo místico, apreciaremos melhores os sentidos divinos que encerra, fortificando ao mesmo tempo, as nossas almas de modo incomparável e dispondo-nos cada vez melhor para a correspondência aos deveres da nossa missão e as necessidades dos homens. Temos esperança que a obra do Concilio será continuada e levada a bom termo com tal docilidade às suas inspirações divinas com grande esforço para tornar as verdades divinas, não em espada para dividir os espíritos, mas laço para unir e os levar a maior clareza e concórdia a glória de Deus, alegria da Igreja e edificação do mundo. Não podemos deixar de aludir aos grandes frutos que a Igreja deve realizar para conseguir consciência mais plena e vigorosa de si mesma.
O primeiro fruto da tomada de consciência da Igreja, quanto a si mesma é sua relação vital com Cristo, pois é o Cristo que vive na sua Igreja, que por ela ensina, governa e confere a santidade, é também Cristo quem se manifesta de vários modos com os membros de sua sociedade (AAS; 35, 1943, p. 238).
O batizado deve, sobretudo, apreciar conscientemente a sua elevação. A nova geração que o recebe e o eleva incomparável realidade de filho adotivo de Deus. Ser cristão não deve parecer-nos coisa indiferente ou desatendível, deve ser uma iluminação, filho da luz para a visão de deus, fonte de eterna felicidade.
A Igreja deve-se ir aperfeiçoando sempre na expressão real, na sua existência terrestre. Não pode ficar imóvel e indiferente entre as mudanças do mundo que a cerca. Ela não está separada do mundo, vive nele. A vida cristã deve não só adaptar-se às formas do pensamento e da moral, mas deve procurar aproximá-los, purificá-los, vivificá-los e santificá-los. Por isso que é providencial a celebração do Concilio. Ele desperta nos pastores e nos fiéis o desejo de conservar o caráter e robustecer na vida cristã seu caráter de autenticidade sobrenatural. Abre à santidade novos caminhos. Incita o amor a tornar-se fecundo, provocando novas arrancadas de virtude e de heroísmo cristão.

Culto a Maria, diálogo e salvação: uma plenitude cristã
O culto à Maria se é um gesto transformador por manifestar a profunda plenitude cristã, “é abençoada, mais doce e mais humilde, a imaculada, a que tocou o privilégio de oferecer ao Verbo de Deus um corpo humano na sua primitiva e inocente beleza, nós quisemos, na nossa peregrinação a Terra Santa”, que Ela nos ensinasse a autenticidade cristã.
Partindo da autenticidade cristã, a exemplo de Maria, a “Igreja adquire cada vez mais clara a consciência de si e procura modelar-se em conformidade com o tipo proposto por Cristo”. Todavia, o Evangelho põe-nos diante dos olhos esta distinção quando nos fala do “mundo, isto é, da humanidade como oposta à luz da fé e ao dom da graça”.
Frente à questão do diálogo, entre a diversidade da vida cristã e a vida profana, deriva também da justificação real, efetiva e da Constancia que dela adquirimos. Somos justificados pela nossa participação ao mistério pascal. A pedagogia cristã deverá recordar sempre ao discípulo dos nossos tempos, esta sua condição privilegiada e o conseqüente dever de estar no mundo sem ser do mundo.
Na missão a ser cumprida está o dever da evangelização, é o mandato missionário, é o dever do apostolado. A Igreja deve entrar em diálogo com o mundo em que vive. A Igreja faz-se palavra, faz-se mensagem, faz-se colóquio.
É preciso que tenhamos sempre presente esta inefável e realíssima relação de diálogo, que Deus Pai nos propõe e estabelece conosco por meio de Cristo no Espírito Santo, para entendermos a relação que nós, isto é, a Igreja, deve procurar restabelecer e promover coma humanidade. O diálogo da salvação partiu da caridade, da bondade divina: “Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho Unigênito” (Jô 3,16).
O diálogo da salvação não obrigou fisicamente ninguém a responder: foi pedida insistentemente de amor que, se constituiu responsabilidade tremenda naqueles a quem foi dirigido (cf. Mt 12,38ss), contudo deixou-nos livres para responder ou fechar os ouvidos. Assim também a nossa missão, ainda que seja anuncio de verdade indiscutível e de salvação necessária, não se apresentará armada de coação externa, mas oferecerá o seu dom salvífico só pelas vias legitimas da educação humana.


O evangelho Anunciado: diálogo da salvação
Diante das relações Igreja e mundo, percebemos que o diálogo ficou ao alcance de todos. Essa relação Igreja com o mundo, sem excluir outras formas legitimas, se apresenta melhor pelo diálogo no qual se dá o sacro e o profano; o dinamismo transformador da sociedade moderna; o pluralismo das suas manifestações; e também a maturidade do homem, tanto religioso como não religioso habilitado pela educação profana a pensar, falar e manter com dignidade o diálogo.
Quem experimenta o dialogo prova da responsabilidade do mandato do anuncio apostólico. Esse “Dialogo da Salvação”, supõe e exige compreensibilidade que é transfusão, mansidão: não é orgulho; não é pungente; não é ofensivo. O diálogo é pacifico, paciente e é generoso. É a confiança e a prudência pedagógica, no qual, entabulado, realiza-se a união da verdade e da caridade, da inteligência e do amor.
O clima do “Diálogo da Salvação” é a amizade; melhor o serviço pelo qual não pode ser fraqueza nos compromissos com a nossa fé. A dialética desse exercício de pensamento e de paciência far-nos-á descobrir elementos de verdade, mesmo nas opiniões alheias, onde descobriremos que são múltiplas as formas do diálogo da salvação. Assim sendo, a Igreja Católica deve hoje assumir com renovado fervor, diante do evangelho anunciado, levando o diálogo da salvação, estando pronta a manter contato com todos os homens de boa vontade, dentro e fora de seu próprio âmbito.
Por isso a Igreja tem uma mensagem para cada categoria de homem: para as crianças, a juventude, os homens da ciência e de pensamento, o mundo do trabalho e as várias classes sociais, os artistas, os políticos e os governantes, especialmente para os pobres, os deserdados, os que sofrem, e até para os moribundos; para todos.

Testemunho de Amor
A Igreja do silêncio cala-se falando apenas com o seu sofrimento fazendo companhia a uma sociedade deprimida, dominada pelos que lhe impõe a sorte. O silêncio da Igreja torna-se um testemunho que nem a morte pode tomar. Entretanto, neste silêncio se faz firme, em seu testemunho de defesa da religião e dos valores humanos que proclama e defende.
Um sonho de justiça e de progresso a serviço de finalidades sociais divinizadas tomam um lugar especial na Igreja em combate àqueles que querem reduzir a religião simplesmente 34à razão. Recordando João XXIII, afirma que “as doutrinas de tais movimentos, uma vez elaboradas e definidas, se mantém sempre a mesma, mas que os movimentos não podem deixar de evoluir nem de subtrair-se a mudanças mesmo profundas”. Sendo assim, não podemos perder a esperança de que eles venham um dia a entabular a reconhecer a posição da Igreja.

Diálogo e Paz
Não podemos apartar os nossos olhos do mundo contemporâneo, sem formular o propósito de cultivar nosso diálogo para que venha a contribuir pela paz entre os homens. Esta abertura para o diálogo pesa por si em favor duma paz livre e honesta. Assim se difundirão em todas as instituições e em todos os espíritos o sentido, o gosto e o dever da paz.

Os crentes em Deus
Tratando dos homens que adoram o Deus único, faz memória do povo hebraico e dos muçulmanos, bem como as religiões afro-asiáticas. Entretanto, afirma que, por dever e lealdade, devemos manifestar que estamos certíssimos que uma só é a religião verdadeira, a cristã. Neste sentido, não podemos de deixar de reconhecer os valores espirituais e morais destas religiões, pois se baseando nestes interesses comuns, o diálogo é possível e não deixaremos de propor num clima de respeito recíproco e leal. Assim, sem deixar de alimentar a esperança de que venham a reconhecer como tal, todos os que procuram e adoram a Deus.


Os irmãos separados
Propõem colocar em evidência primeiramente o que nos é comum, antes de insistirmos no que nos divide. Mas devemos dizer que não podemos transigir sobre a integridade da fé e as exigências da caridade. A Igreja católica não deixará, na oração e na penitencia, de tornar-se idônea e digna para a desejada reconciliação.
Um pensamento a esse respeito é quanto ao Primado de Pedro, sua honra e jurisdição, entregue por Cristo ao Apóstolo e nossa herança. Sem papa a Igreja Católica não seria o que é, mas por que, faltando na Igreja de Cristo à autoridade pastoral suprema, eficaz e decisiva, a unidade se arruinaria, e em vão se procuraria depois refazê-la.

O diálogo na Igreja Católica
Trata do diálogo entre os católicos cristãos, em que a Igreja é “mãe e cabeça”. Convida os filhos da casa de Deus, a Igreja una, santa, católica e apostólica encontrar o prazer no diálogo doméstico.
Seu desejo é que as relações interiores da Igreja se caracterizem pelo tom próprio do diálogo, entre membros de um corpo cujo principio constitutivo é caridade. Não dispensa a prática da virtude de obediência à constituição hierárquica da autoridade.
Por obediência expressa em forma de diálogo, entendemos o exercício da autoridade e da caridade. O espírito de independência, de crítica e rebelião concorda mal com o amor que anima a solidariedade, a concórdia e a paz na Igreja.
Enfim, que o diálogo interior, dentro da comunidade eclesiástica, desperte novo entusiasmo, multiplique assuntos e interlocutores, de modo que aumente o vigor e a santidade do Corpo Místico, terreno, de Cristo.


CONSIDERAÇÕES PARA UMA RENOVAÇÃO EFICAZ DA VIDA ECLESIAL

O Concílio tem o propósito de favorecer uma reforma para infundir novo vigor espiritual ao Corpo Místico de Cristo, como organização visível, purificando-o dos defeitos de muitos dos seus membros e estimulando-o a novas virtudes. Obviamente, essa reforma não pode abarcar nem o conceito essencial nem as estruturas fundamentais da Igreja católica, mas deve ser entendida como confirmação no esforço para mantermos na Igreja a fisionomia que lhe imprimiu Cristo, mais ainda, no esforço para a reconduzir sempre à sua forma perfeita.
Ao contrário do que muitos poderiam pensar, a renovação da Igreja não deve consistir exclusivamente na adaptação dos seus sentimentos e costumes aos do mundo, o qual está permeado de naturalismo e relativismo. Este último, por exemplo, tudo justifica e afirma que tudo é do mesmo valor, impugnando assim o caráter absoluto dos princípios cristãos. Como sabemos a Igreja não pode fugir da máxima evangélica: estar no mundo, mas não ser do mundo, o que não significa que a intenção da Igreja é permanecer imóvel na história. Pelo contrário, ela deve buscar sempre uma “atualização”.
O Concílio entende que as normas eclesiásticas poder-se-ão tornar mais praticáveis pela simplificação de alguns preceitos e pela maior confiança que a Igreja mostre na liberdade do cristão de hoje, mais instruído nos seus deveres, mais adulto e mais ponderado na escolha dos meios para os cumprir. Mas não podem deixar de manter-se na sua exigência essencial. A Igreja, por sua vez, deve sempre estar consciente de que tudo lhe há de vir da correspondência à graça divina, da fidelidade ao Evangelho do Senhor, da sua coesão hierárquica e comunitária. E o cristão não pode ser considerado mole nem covarde, mas forte e fiel.
Essa renovação eficaz da vida eclesial não abre mão de dois pontos primordiais do evangelho: o espírito de pobreza e o espírito de caridade. Em relação ao primeiro, o Concílio espera que os bispos indiquem como se devem propor à vida da Igreja os critérios diretivos que devem fundar a confiança mais na ajuda de Deus e nos bens do espírito do que nos meios temporais, recordando a sua primazia sobre os bens econômicos e também que se deve limitar e subordinar a posse e uso destes ao que for útil para o conveniente exercício da missão apostólica.
Quanto ao espírito de caridade, não precisamos ressaltar o quanto ele é fundamental e que deve sempre ocupar o primeiro lugar, o mais alto na escala dos valores religiosos e morais, não só na estimativa, mas também na prática da vida cristã, pois não se trata apenas da caridade para com Deus, mas também para com o próximo. No espírito da reforma eclesial é conveniente dizer que a caridade tudo explica, tudo inspira, tudo torna possível e tudo renova.

Texto organizado por Francisco Semplício Pires, Diácono transitório da Diocese de Santo André.
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[1] Bruno Forte. Na memória do salvador, pg. 164.

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